Este artigo é de autoria de Ricardo Schütz, e está reproduzido aqui com a permissão do autor. Para maiores detalhes ou para ler outros artigos sobre o tema da aprendizagem de línguas estrangeiras, visite o site www.sk.com.br
É notório e surpreendente o contraste entre a facilidade com que algumas pessoas aprendem línguas estrangeiras e a quase impossibilidade com que outros se defrontam. Maior ou menor ritmo de assimilação da língua estrangeira (maior ou menor talento) pode depender de inúmeros fatores. Este rápido estudo tem por objetivo investigar e apontar os principais fatores que influenciam o aprendizado de línguas, determinando as diferenças de ritmo e de teto.
IDADE: Um dos fatores mais notórios é a idade. Por razões de ordem biológica e psicológica, quanto mais cedo, melhor. O ritmo de assimilação das crianças não só é mais rápido, como o teto, mais alto.
FORMAÇÃO LINGÜÍSTICA: Outro fator de peso é a formação lingüística da pessoa, isto é, o grau de semelhança que a L1 (língua mãe) do aluno tem com a L2 (língua alvo). A semelhança lingüística normalmente vem acompanhada de semelhança cultural. É evidente a facilidade com que alemães, holandeses, dinamarqueses e suecos aprendem por exemplo inglês. Mesmo brasileiros demonstram para a língua inglesa uma facilidade muito superior a japoneses e chineses.
VERSATILIDADE LINGÜÍSTICA: As vezes a língua alvo é a terceira língua do aluno. Este é outro fator de decisiva importância. Os monolíngües demonstram uma forte dependência das formas da língua mãe para estruturarem seu pensamento, ao passo que os bilingües demonstram maior versatilidade mental. Aquela mente que já uma vez passou pela experiência de buscar e descobrir novas formas de expressar o pensamento que não as da língua mãe, com mais facilidade consegue repetir esta façanha. Esta maior versatilidade lingüística é normalmente acompanhada de uma maior versatilidade cultural, facilitando a identificação com a cultura alvo.
CARACTERÍSTICAS PSICOLÓGICAS: Fatores de ordem psicológico-afetiva podem causar um impacto direto na capacidade de aprendizado, influindo tanto positivamente como negativamente. Aquelas pessoas introvertidas e perfeccionistas, por exemplo, normalmente encontram mais dificuldade. Os principais fatores que atuam como filtros dificultadores da assimilação são:
ACUIDADE AUDITIVA: Sendo língua um fenômeno essencialmente oral, não só a percepção mas também a articulação de sons dependem diretamente da capacidade auditiva, uma vez que o ouvido funciona como monitor da articulação. Quem não dispõe de boa audição, leva desvantagem da mesma forma que uma pessoa de baixa estatura estaria em desvantagem para se tornar um bom jogador de basquete. Uma avaliação fonoaudiológica pode predeterminar dificuldades ou facilidades para o aprendizado de línguas.
DISPONIBILIDADE MENTAL: O grau de disponibilidade mental da pessoa para com a língua estrangeira é inversamente proporcional ao número e ao peso das preocupações de ordem familiar, profissional e financeira com que a pessoa vive. Quanto menor a disponibilidade mental, tanto menor o ritmo de assimilação.
MOTIVAÇÃO: A motivação pode tornar-se uma força propulsora de importância decisiva. O fato da pessoa se identificar com a cultura estrangeira, e o conseqüente desejo de imitar, de pensar e falar igual é um fator de peso. Desmotivação, por outro lado, é freqüentemente causada pela ausência de um motivo expontâneo ou pela frustração de não se conseguir proficiência através do estudo formal. Este é um problema freqüentemente observado em salas de aula que enfatizam language learning em vez de language acquisition.
INDEPENDÊNCIA: O pleno desenvolvimento da competência na língua estrangeira ocorre quando o aluno, além de ser movido por um interesse ou necessidade pessoal, assume o controle de seu próprio destino neste processo, adquire consciência de suas habilidades e de suas limitações, e desenvolve uma estratégia que consegue tirar vantagem de suas habilidades e compensar suas limitações. Portanto, independência em relação a professores e programas é, no plano psicológico, um elemento fundamental.
TEMPO DE DEDICAÇÃO E GRAU DE ENVOLVIMENTO: Logicamente, quanto mais tempo for dedicado ao contato com a língua estrangeira, tanto maior será o grau de assimilação. Não só o tempo de contato, entretanto, mas também o grau de envolvimento afetivo e psicológico por ocasião do contato, terá influência decisiva. Por exemplo, se o contato for com texto escrito, se o aluno estiver tentando ler um texto em inglês, quanto maior for o interesse do aluno pelo assunto, tanto maior sua assimilação. Se o contato for com a língua falada, se o aluno estiver conversando com algum estrangeiro, quanto maior o envolvimento afetivo com essa pessoa, ou quanto maior o grau de interesse ou de importância da conversa, tanto melhor a assimilação.
CONCLUSÃO: Programas de ensino de línguas serão menos eficazes se predeterminarem o mesmo ritmo para todos. Deveriam isto sim levar em consideração diferenças individuais, permitindo que cada um construa seu desenvolvimento de acordo com seu talento, motivação e disponibilidade. Ou seja, devem saber explorar o talento dos mais rápidos, bem como respeitar o ritmo de assimilação daqueles que precisam de mais tempo.